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Concessão do Cais Mauá será questionada no Ministério Público de Contas

As críticas ao Edital do Projeto de Revitalização do Cais Mauá de Porto Alegre resultarão em um questionamento ao Ministério Público de Contas. O movimento para tentar impedir a construção de nove espigões junto ao Cais Mauá foi reforçado na audiência pública feitas durante a audiência pública promovida nesta segunda-feira (11) pela Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, por proposição é dos deputados Sofia Cavedon, Laura Sito, Leonel Radde e Miguel Rossetto.

A deputada Sofia Cavedon afirmou que há a possibilidade de levar o caso também ao Tribunal de Contas do Estado. Para Sofia, o que está previsto no edital vai repetir um erro já cometido na Orla do Guaíba. “O modelo da Orla, discordamos da forma como foi feito. É um investimento do estado, com parceria público privada, trocando valor de patrimônio público por investimentos”. A deputada sugeriu um esforço para consolidar um material para ser entregue ao Ministério Público de Contas antes da abertura dos envelopes na licitação. “Fica o alerta para quem quiser solicitar esclarecimentos e impugnação entrar no site da Central de Licitações (Celic)”.

Representando o Fórum de Entidades em defesa do Patrimônio cultural brasileiro/RS Coletivo Cultural Cais, Jacqueline Custódio disse que a forma de gestão ideal seria uma gestão compartilhada entre estado, produtores culturais e a iniciativa privada. A falta de acessibilidade ao Cais Embarcadero foi apontada por Nelson Luiz Lopes Khalil, do Conselho Estadual dos Direitos das Pessoas com Deficiência (Coepede). Segundo ele, isso é resultado da falta de políticas inclusivas no governo Leite. “Eu pergunto se o governador Eduardo Leite sabe que há no estado pessoas cadeirantes”, provocou. “Estamos discutindo se o ladrão pode ou não pode roubar. Estamos discutindo um projeto que é ilegal. Onde entram nove espigões?”, completou.

Felisberto Luise, do Coletivo Cultural Cais Mauá, defendeu que se preserve a história da cidade e não se destrua as docas. “Esses governos não se preocupam com a história da cidade. Com relação às docas, argumentam que tem que demolir para construir os edifícios e o próprio prefeito encaminhou para a Câmara de Vereadores projeto alterando índice construtivo para beneficiar o responsável pelo 4º Distrito, o que é uma excrescência. Isso é uma proposta direcionada”, disse.

Rafael Passos superintendente estadual do Iphan defendeu a existência de propostas de forma interdisciplinar, envolvendo os cursos de arquitetura, administração, filosofia e ciências humanas. Segundo ele, o edital não atende ao interesse público. “O Iphan indeferiu o projeto. Nenhum dos projetos considerou as docas patrimônio histórico. O acesso principal do pórtico é o único bem tombado. Nos preocupa que foi incluído no edital a venda de solo criado, mas não fica claro que solo criado é esse. Me preocupa as alterações que já vimos acontecer. O leilão é precipitado”.

O descaso com a historicidade foi destacado pelo assessor do gabinete vereador Jonas Reis, o historiador Daniel Gomes. Segundo ele, o descaso acontece tanto com o patrimônio material quanto imaterial. “O cais faz parte da história social e econômica da cidade, por isso é fundamental a luta pelo uso social e cultural do Cais. Não podemos ter mais um espaço entregue para mais um shopping center”. Gomes também chamou a atenção para o impacto no trânsito, caso seja construído um espigão junto ao cais do porto. “Não temos uma política de transporte público na cidade e os espigões junto ao Cais só vão piorar o trânsito que já é conturbado na Avenida Mauá”. O impacto gerado se a construção foi efetuada, segundo o historiador, também será ambiental. “São nove espigões. Para onde vai o esgoto de tudo isso?”, questionou.

Valdir Fiorentin, do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Rio Grande do Sul, acrescentou que há um equívoco no processo que mais uma vez faz uma concessão à iniciativa privada e afirmou que o argumento de que há um déficit habitacional em algumas faixas da população é uma falácia. “Esse uso de tentar misturar as docas com os armazéns para justificar uma obra ou outra é inaceitável”, disse.