As comunidades escolares atingidas pelas enchentes no RS fizeram a primeira escuta formal no espaço de assuntos gerais da reunião da Comissão de Educação, Cultura, Desporto, Ciência e Tecnologia, desta terça-feira (04/06). A deputada Sofia Cavedon (PT), que presidiu os trabalhos, lembrou que não se trata apenas das estruturas físicas que foram destruídas pela catástrofe ambiental, em especial a situação dos trabalhadores e trabalhadoras em Educação. Sofia informou que já houve um encontro virtual com professores, diretores de escolas, estudantes e funcionários, que constituiu um manifesto com as primeiras necessidades e já foi realizada uma reunião com a secretária de Educação do Estado, Raquel Teixeira. “O item número um do manifesto entregue a ela e a Cristiane Corrales, promotora da Educação do Ministério Público, é o recurso direto na escola. Porque a escola pode agilizar ações, o mais rápido possível, e a gente tem dito isso ao Governo Federal também.”
O diretor da Escola Brasília, em Porto Alegre, Nei Colombo afirmou que desde o bairro Menino Deus até o bairro Sarandi, as 250 escolas ficaram submersas e que a orientação da Secretaria de Educação (Seduc) é esperar a água baixar. Colombo disse que em reunião do Fórum de Diretores, cobrou um cronograma da Seduc. Do total de escolas afetadas, 24 sofreram danos graves na sua estrutura e ainda não há orientação da Seduc sobre o que fazer. O diretor disse que foi preciso a escola tomar a iniciativa de contratar uma empresa especializada e organizar um mutirão para limpar a escola e garantir a retomada das aulas e denunciou o fato da Seduc não ter um plano de limpeza das escolas até o momento.
A deputada Sofia informou que o prefeito de Porto Alegre, Sebastião Melo, contratou uma empresa, por três meses, no valor de R$ 19 milhões, para retirar os entulhos da cidade, que estão sendo concentrados na região norte da capital, mas não há prioridade para as escolas.
Gilson dos Anjos, professor da Escola Presidente Castelo Branco, em Lajeado, a maior escola estadual do Vale do Taquari, contou que a instituição já havia sido atingida pelas enchentes de setembro de 2023 e a parte da estrutura que abrigava das salas de aula, foi transferida para o campus da Universidade do Vale do Taquari (Univates). Com as enchentes de abril deste ano, também a parte administrativa foi atingida, perdendo toda a documentação. Segundo Gilson, a biblioteca da escola não chegou a ser atingida, mas está cercada de águas ainda, impedindo o acesso da comunidade escolar que segue abrigada na universidade. O professor afirmou ainda que o maior problema hoje é a falta de informação sobre o destino da escola e solicitou uma visita da Comissão de Educação ao município para tratar do tema.
Beatriz Reckzigel, diretora da Escola Moinhos, de Estrela, contou que a instituição não existe mais, porque foi tomada pelas águas afetando gravemente a estrutura e que toda a comunidade escolar foi atingida pelas enchentes. Beatriz manifestou preocupação em manter a escola como uma referência para estudantes que perderam tudo e com o corpo funcional de professores e funcionários que estão sem trabalho no momento.
Além do depoimento de diretores e professores, os pais e estudantes da Escola de Ensino Fundamental Professor Olintho De Oliveira, no bairro Cidade Baixa, em Porto Alegre, também estiveram na reunião da Comissão. O prédio da escola teve a estrutura elétrica afetada pela subida das águas e os pais querem garantir que os recursos para as reformas possam ser acessados pela comunidade escolar.
Manoela Ávila da Escola João Goulart no bairro Sarandi, em Porto Alegre, um dos bairros mais afetados da capital, afirmou que ainda é impossível acessar o prédio da escola e que houve uma perda de 100% dos equipamentos de ensino. Ávila lembrou que será preciso um profundo trabalho de descontaminação da área atingida e que é preciso pensar na reconstrução da escola junto com o reassentamento da comunidade que também foi vulnerabilizada.
A diretora da Escola Professor Júlio Grau, no bairro Santa Maria Goretti, em Porto Alegre, Joceline Sperotto, ressaltou que apesar da vontade, a limpeza da escola só poderá ser feita por uma empresa especializada, devido à contaminação da água. A instituição teve várias salas afetadas, incluindo o refeitório e as salas de aula
A deputada Sofia Cavedon informou que o Governo Federal vai disponibilizar recursos, via Plano Nacional de Educação (PNE), mas depende do Governo do Estado para informar a situação de cada escola.
A professoras, mães e funcionários da Escola Municipal de Educação Infantil Tio Barnabé, no bairro Azenha em Porto Alegre, instituição que atende crianças filhos de municipários, denunciou a falta de diálogo com a Secretaria Municipal de Educação (Smed) e a falta de vagas disponibilizadas pelo município. Os pais estão levando os filhos para o trabalho.
No encerramento da reunião da deputada Sofia Cavedon, informou que o Governo do Estado ainda não encaminhou ao Governo Federal as escolas que precisam receber recursos para retomar seus espaços e normalizar as aulas e que o Governo Leite adotou a proposta das bancadas do PT e PCdoB de criação de um fundo para a reconstrução do Estado. “O Governo do Estado tem muito dinheiro agora, para a reconstrução. Nós precisamos ver qual é a prioridade para a reconstrução, com quem ele está discutindo e como chega nas escolas.”
Sofia criticou a transparência na execução orçamentária do Governo do Estado e afirmou que as demandas apontadas na Comissão por diretores, professores, pais e estudantes, serão reunidas em um documento que deverá ser enviado à secretária de Educação e ao Ministério Público do Estado.